Há algo no meu sangue, no teu sangue, a entrar e a circular como se fosse uma mensagem corrente. A cada batida do tambor, eu entrelaço e tu entrelaças o seu embate, e com ele levamos a vibração até ao nosso coração.
Jamais conseguiremos transformar tudo em linguagem. É como que tentar pressagiar e experimentar algo muito único e profundamente enraizado, numa transparência que só acontece, de mim para ti e de ti para mim.
No momento em que decidimos deslocar as emoções, as variações explodem e a intensidade ocorre em nosso redor. E com o tempo, as nossas almas e os nossos corpos vão aprendendo a mostra-se em liberdade, doçura e firmeza.
O meu e o teu corpo são um monumento, uma construção, uma obra dos anos que nos correm pelas veias. Há um principio de existência, de força, de origem, de essência, de efeito e de causa que nos toca bem fundo e que nos induz a aproximar-nos cada vez mais, de um lugar genuinamente seguro e protegido.
Esse lugar sou eu e és tu.
Eu sou e tu és o ente consciente e repleto de plurais pessoais. E tentar exprimir o que sentimos, nestes momentos, também ajuda a extrair expressões, palavras ou gestos. Contudo, descubro que dar a conhecer é algo demasiado livre para o conseguir totalmente. Ainda assim, silenciamos e deixamos o nosso coração disparar.
É no silencio e neste estado que se abstém de falar, que o ruído se cessa. É aqui que a verdadeira conjugação de sons e das minhas intenções artísticas, entram na composição da mais bela peça musical.
Há algo de silvestre e de bravo quando nos posicionamos neste lugar. Onde a escrita é antagónica e incompleta. Onde nada se explica e onde tudo se sente. Onde o amor é apenas e só uma imagem.
As ligações comovem e nós somos o que existe das palmas dos nossos pés para o resto do mundo.
Somos vida. Somos som e a imagem, em queda livre. Somos história que emociona a nossa alma portuguesa.
Sara Rica
📸 Elodie Pereira – elodiepereira.com